Espanha - Camino from Finisterra to Muxía - May 2017
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English version, please scroll down
A minha
chegada a Finisterra foi marcante.
É emocionante
ver o Km 0, depois de uma série de dias a caminhar. Mas caminhar pode ser também
viciante. Não é
por acaso que conheci pessoas a andar há mais de 40 dias, ou a fazer o Caminho
pela oitava vez.
Ao
caminharmos traçamos e testamos limites e todos os dias nos apercebemos que os
alcançamos (de uma forma ou de outra). Sentimos o tempo (para mim, o bem mais
precioso que podemos ter), vivemos!
E sim,
deve poder ser considerado uma técnica de mindfullness
porque enquanto se caminha estamos com a paisagem e connosco, experimentamos
cansaço, fome, sede, calor, frio, desalento, alegria … sei lá!
Não se
veêm propriamente pessoas ao telemóvel ou angustiadas com algo que deveriam ter
feito e não fizeram. Não. As pessoas estão ali para caminhar e seguir as setas
amarelas.
Que
alívio é não se ter de pensar para onde se está a ir, se o que estamos a fazer
está bem ou mal feito, como é que os outros vão responder ao que estamos a
fazer, ou qual o resultado!
O foco está
no processo, em caminhar. E dei por mim a pensar que a vida deveria ser assim,
mais tranquila e simples… Em vez de estar tão focada nos resultados, se calhar eu
deveria estar mais atenta àquilo que está a acontecer, ao percurso.
Finisterra
representa o fim do Caminho de Santiago mas existe mais uma etapa (aliás há
quem a faça primeiro) - Muxía. Resolvi
ir até lá, mas já com o sentimento de “extra”, de um prolongar de um prazer
sentido e um atrasar do regresso a casa.
Arranquei
no dia seguinte com os meus companheiros Jorge e Dai, já a meio da manhã.
Ninguém tinha pressa.
Apesar
de muito bonito, poucos kms depois de termos saído de Finisterra, o caminho é
marcado por um loooooonga subida, que por diversas vezes ansiei que terminasse,
mas depois temos a possibilidade de decidir entre ir pelo caminho antigo ou
pelo caminho da costa e foi pelo segundo que seguimos. Foi também nessa
intercepção que conhecemos Kelly, uma alemã simpática, também ela a fazer o
caminho Português.
Seguimos
os quatro até Lires, quanto a mim um dos trajectos mais bonitos que tive a
oportunidade de fazer.
Lires é
uma povoação a cerca de 16 km de Finisterra, muito próxima de uma baía gigante,
a meio caminho para Muxía. Avistei umas ondas bem formadas, que permitiriam a
um surfista fazer esquerdas e direitas e fiquei com pena de não ter uma prancha
comigo.
Foi aí
que decidimos ficar a dormir nessa noite. Eu estava estoirada do dia anterior e
o resto da rapaziada estava desejosa de ir para a praia.
Já na
esplanada do Albergue "As Eiras" conheci a Cynthia, uma senhora canadiana que estava
acompanhada pelo seu marido. E estou-lhe muito grata já que me proporcionou um
momento “Ah-ah!”, verdadeiramente libertador. Pareceu percepcionar sem qualquer
dificuldade o que os meus medos não me deixam frequentemente ver. Que a minha
vida pode ser exactamente o que eu quiser que seja, sem ter que integrar um estilo já
definido e sem culpabilidades. Parece óbvio, mas não é… foi naquela altura que
senti que estava na hora de regressar a casa.
O albergue
onde estava, ainda que um pouco mais caro que os outros, oferecia muito boas
condições e nessa noite jantámos todos, com mais uma rapariga italiana,
saboreando um menu do peregrino bem servido, acompanhado do vinho da casa. A
conversa incidiu espontaneamente no que tinha sido para nós esta experiência, julgo
que em jeito de necessidade de fecho. Cada um tinha as suas razões para ter
decidido fazer aquela jornada e não houve um único que não tenha adorado e
pensado em repetir.
Estávamos
nesta amena cavaqueira quando vejo chegar o Javier, o madrileno amigo do David
e que nunca mais tinha visto desde Pontevedra. Fiz de imediato uma festa! Este
senhor é um adepto fervoroso do Real de Madrid e ainda estava ofegante do "esticão" que tinha feito para chegar a tempo de ver o jogo da Liga dos Campeões. Acabei
por aceder ao convite que me fez e assisti aos 3 golos do Cristiano Ronaldo, na
sua companhia e de um "alvarinho" 😊
Nessa
noite estive ainda com o Tiago (o brasileiro que caminhava com um joelho em mau
estado) e voltei a sentir uma alegria neste reencontro.
De
manhã, iniciei a minha última caminhada, aquela que me levaria a Muxía. Parti
sozinha mas a meio do caminho apanhei o Dai e fiz a restante etapa com ele.
A
chegada a Muxía é incrível, com uma extensa praia de areia branca, que se
estende à nossa frente, limitada por colinas verdes (salpicadas de flores roxas
e amarelas) e uma forte ondulação. Um pouco mais adiante, avistámos um pequeno
recorte de areia, orientado a sul e água muito transparente. Aqui o mar era
menos batido. Apesar da preocupação do Dai em apanhar o autocarro para
Santiago, consegui convencê-lo a tomarmos um banho e foi o melhor que fizemos!
Quando
saímos encontrámos o Javier, que estava também a chegar, e fomos até ao centro
da Vila.
Disse
adeus a Dai com um abraço e fui procurar sítio para ficar.
O
restante dia, ainda que descontraído e bem-disposto, teve o mesmo tom de
despedida, com direito a praia, a vinho branco de final de tarde, jantar e
pôr-do-sol.
Dizem que fazer o Caminho de Santiago
representa a possibilidade de uma renovação da nossa vida. Os
"especialistas" madrilenos David e Javier (corroborados por muitos
outros peregrinos) disseram-me que é suposto simbolicamente queimar um pedaço
de roupa quando chegamos a Finisterra. Abrir mão da antiga vida para começar uma
nova. Quero crer nisso... a ver.
English Version
My
arrival in Finisterre was remarkable. It's exciting to see Km 0, after a series
of days walking. But walking can also be addictive.
No
wonder I met people walking for more than 40 days, or doing the Camino for the
eighth time.
As we
walk we draw and test limits and every day we realize that we reach them (one way or the other). We feel the passage of time (for me, the most precious good we can have),
we live!
And yes,
it can be considered a technique of mindfullness because while we are walking
we are with the landscape and with ourselves. We experience fatigue, hunger,
thirst, heat, cold, discouragement, joy ... many things!
You don't exactly see people on the phone or anguished about something they should
have done but they didn’t do. No. People are there to walk and simply follow the yellow
arrows.
What a
relief it is not to have to think about where we are going, whether what we are
doing is right or wrong, how will others respond to what we do or what will be the end result!
The
focus is on the process, on walking.One foot in front od yhe other, step by step. And I found myself thinking life
should be like this, more calm and simple ... Instead of being so focused on
the results, maybe I should be more aware about what is happening as I go forward, to the route.
Finisterra
represents the end of the Camino de Santiago but there is one more step (there are
some people who do it first) - Muxía.
I
decided to go there, but already with the feeling of doing the "extra" mile, a combination of both, a prolonged sense of pleasure and a delay of the homecoming.
I
set off on my way the next day with my companions Jorge and Dai, already mid-morning.
Nobody was in a hurry.
Although
very beautiful, a few kilometers after we left Finisterre, the Camino is marked
by a steep loooooong climb, which I have often wished it would end. But then we have the possibility to choose between
going by the old road or the coast path and it was for the second one that we decided
to go. It was also in this interception that we met Kelly, a nice German girl
who also did the Portuguese way.
We went
together to Lires, for me one of the most beautiful routes I have had the
opportunity to do.
Lires is
a village about 16 km from Finisterre, very close to a giant bay, halfway to
Muxía. I saw some well-formed waves that would allow a surfer to drop and cut lefts and
rights and I felt sorry for not having a board with me.
That's where we decided to spend that night. I was very tired from the day before
and the rest of the boys were eager to go to the beach.
Already
on the terrace of the "As Eiras" hostel I met Cynthia, a Canadian lady who was accompanied
by her husband. And I am very grateful to her for giving me an "Ah-ah!" moment, truly liberating. She seemed to perceive without difficulty what my
fears do not often let me see. That my life can be exactly what I want it to
be, without having to integrate an already defined style, without guilt. It
sounds obvious, but it's not ... It was then that I felt it was time to go
home.
The
hostel where I was staying at, although a little more expensive than the others, offered very
good conditions. That evening we all had dinner with another Italian girl,
enjoying a well-served pilgrim menu accompanied by the house wine. The
conversation spontaneously focused on what this experience had been for us.
Each one had his own reasons for having decided to make that journey and there
was not one who did not adore it and thought about repeating it.
We were having this nice chat when I saw Javier arrive, the Madrilenian friend of David and
whom I had never seen again since Pontevedra. I immediately made a party! This
gentleman is a fervent supporter of Real Madrid and was still panting from the
stretch he had made to arrive in time to see the Champions League game. I ended
up accepting the invitation and watched Cristiano Ronaldo's 3 goals against Atletico Madrid, in the first leg of the Champions League semi-final in his company in his company and a glass of wine 😊
That
night I was salso with Tiago (the Brazilian who walked with a bad knee) and I felt
again a joy in this reunion.
In the
morning, I started my last stretch, the one that would take me to Muxía. I left
alone but halfway I picked up Dai and did the rest of the stage with him.
The
arrival at Muxía is incredible, with an extensive white sandy beach stretching
ahead of us, bordered by green hills (dotted with purple and yellow flowers) and
a strong ripple. A little further down, we saw a small cut of sand, facing south and very transparent water. Here the sea was less beaten. Despite
Dai's concern about taking the bus to Santiago, I managed to convince him to
take a shower and it was the best we did!
When we
left we found Javier, who was also arriving, and we went to the center of the
village.
I bid Dai farewell with a hug and went to find a place to stay.
The rest
of the day, although relaxed and well-disposed, had the same tone of farewell,
with the right to go to the beach, a glass of wine in the afternoon, dinner and
sunset.
People
say that making the Camino de Santiago represents the possibility of a renewal
of our life. The Madrid "experts" David and Javier (corroborated by many
other pilgrims) told me that it is supposed to burn a piece of clothing when we
arrive in Finisterra. Let go the old life in order to start a new one. I
want to believe in it ... let’s see (reviewed by Ricardo Domingos - Thank you so much!!)
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