Espanha - Camino Santiago / Finisterra - Apr 2017
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English version please scroll down
Acabo de
chegar de uma das experiências mais interessantes que fiz até hoje - o Caminho
de Santiago.
Ainda
estou para aqui a sentir-me e a arrumar as coisas dentro de mim.
Enquanto
caminhava até Santiago, tive conhecimento pelos madrilenos Javier e David, que
na realidade o caminho termina em Finisterra/Muxía.
Não sei
explicar muito bem, mas é como se a chegada a Santiago não tivesse sido
suficiente para mim. Decidi continuar até Finisterra,
e, estranhamente, revivi todos os medos e receios que tinha tido antes de
arrancar de Valença…
Após um óptimo
pequeno almoço, despedi-me emocionada dos meus amigos indianos Sanjay e Sita (Nandita
não estava) e dos queridos irlandeses Tom, Dan, John e Kieran.
Comecei
a caminhar tarde, sozinha de facto pela primeira vez, chorosa por longos kms.
Tenho
esta sorte de me ligar muito facilmente às pessoas e o azar de sofrer quando me
separo delas. E caramba! Que difícil foi para mim seguir sem os meus amigos
irlandeses!
Mas o
Caminho tem esta coisa extraordinária. Enquanto se caminha, transformamo-nos.
Não é preciso se quer pensar, apesar de o podermos fazer.
As
paisagens são lindas, o vento e o sol batem-nos na cara, fazem-nos sentir frio
ou calor e não há que ter dúvidas no que é para fazer: seguir as setas
amarelas!
A etapa
de Santiago a Negreira tem cerca de 23km e uma subida valente. Foi para o final
desta etapa que conheci o Tim, um americano de ascendência chinesa, a caminhar desde
Barcelona. Passámos juntos por Puente
Maceira, uma aldeia lindíssima!
Um pouco
mais tarde apanhámos o Tiago, um brasileiro também a caminhar há umas semanas,
ainda que estivesse com um joelho magoado.
Por fim
conseguimos camas no albergue municipal, que fica já fora do centro de Negreira.
Quem me
conhece sabe que eu sou uma celebradora nata! Ao longo destes dias não fui
diferente e, sempre que chegava ao meu destino, procurava festejar, frequentemente
com uma imperial 😊
Aqui
quem me fez companhia foi Jacob, um rapaz de Walles, que generosamente me cedeu
uma das suas cervejas, já que estávamos um pouco afastados de tudo. Foi uma das
pessoas mais interessantes que conheci ao longo destes dias, pela liberdade a que
parece permitir-se, pouco se importando que os outros o possam achar saído do
filme “Trainspotting”, arrojado nas suas ideias e com uma enorme sensibilidade.
Foi este rapaz de 23 anos que me fez companhia nos 24 Kms seguintes até Santa
Mariña de Maroñas.
A pausa
em Santa Mariña de Maroñas foi muito rica porque conheci o Eduardo, um açoreano
muito simpático, que fazia o seu 8º caminho. Conheci ainda aqueles que viriam a
acompanhar-me até ao fim desta aventura, Jorge (um checo reservado, tranquilo e
com uma capacidade de viver intensamente a vida muito maior do que aparenta) e
o Dai (um japonês que fala espanhol, bem disposto e eleito por mim a pessoa
mais “cool” do caminho 😃).
No dia
seguinte esperava-nos “A etapa!”. Verdadeiramente emocionante!
Saí com
o Jacob em direcção a Hospital, localidade em que o caminho se bifurca. O meu
companheiro de Walles estava decidido a ir até Muxía e eu a Finisterra.
Começámos a caminhar e o ar estava particularmente frio. Cerca de meia hora
depois apercebemo-nos pela cor do céu que as previsões meteorológicas se iriam
cumprir. O Jacob estava genuinamente entusiasmado com a ideia de apanhar uma
chuvada, dizendo que o fazia lembrar de “casa”. Já eu estava com tanta vontade
de viver todo o Inverno (porque não passei este ano) num dia, como ser abraçada
por um porco…
O vento
frio ganhou força e, passado uns instantes começou a chover intensamente.
E assim
foi o nosso dia até a Hospital, com chuva, granizo, abertas no tempo, paisagens
de cortar a respiração e as nossas conversas. Foi com um grande abraço que me
despedi dele, satisfeita de o ver arrancar com um norueguês seu amigo que
encontrámos naquela paragem.
Fiquei
no café/albergue indecisa se deveria prosseguir ou não.
Até Cee eram aproximadamente 16 km, mais ou
menos o mesmo que eu tinha feito até à altura. Estava cansada e sabia que iria
continuar a chover com interrupções. Aquele também era o último sítio onde
poderia ficar, não havia meio termo.
Foi
quando chegaram o Jorge e o Dai, também eles a caminho de Finisterra. Jorge
estava decidido a ver o mar e vou-lhe ficar sempre grata por se ter recusado a
ficar.
Segui
com eles, apanhámos de facto mais alguma chuva e frio mas depois o sol começou
a rasgar o céu. Não dá para expressar a alegria ao sentir o calor na cara e
mais tarde ao ver o mar… Senti-me tão viva!
Ficámos
no Albergue "Casa da Fonte" e tivemos uma noite muito agradável.
No dia
seguinte Jorge, Dai e eu fizemos os 15 km que nos restava até Finisterra.
Estávamos sem pressa de chegar aos 0 Km. Tínhamos decidido ver aí o pôr-do-sol
e eu estava algo nostálgica com o fim.
Mas o querido
David, madrileno super divertido, enviou-me uma mensagem dizendo que estava a
10 km de Finisterra e que vinha a caminho. E eu fiquei inexplicavelmente feliz!!
Na vida
há que celebrar!
Cumprimos
um desejo do Jorge e tomámos um banho no mar gelado. Pouco depois segui para o
farol, onde cheguei como comecei, sozinha. Mas por pouco tempo, já que o David
e o seu irmão Pablo chegaram e depois os meus companheiros de jornada,
acompanhando-me numas cervejas ao pôr-do-sol.
English version
I have
just arrived from one of the most interesting experiences I have ever done -
the Camino de Santiago.
I'm
still here feeling and packing things inside of me.
While walking
to Santiago, I had learned from the Madrilenians Javier and David, that in fact
the Camino ends in Finisterra / Muxía.
I can’t
explain myself very well, but it is as if the arrival into Santiago had not
been enough for me. I decided to continue to Finisterra, and strangely, I
relived all the fears I had had before I started from Valencia ...
After a
great breakfast, I said goodbye to my generous Indian friends Sanjay and Sita
(Nandita was not there) and to my dear Irish friends Tom, Dan, John and Kieran.
It was
late when I started walking that day, alone in fact for the first time, tearful
for long kms.
I'm
lucky enough to connect very easily with people and the misfortune of suffering
when I leave them. And dammit! How hard it was for me to go without my Irish
friends!
But the
Camino has this extraordinary thing. While walking, we are transformed. It
isn’t necessary to think even, though we can do it.
The
landscapes are beautiful, the wind and the sun hit us in the face, they make us
feel cold or hot and there is no need to have doubt about what to do: follow
the yellow arrows!
The
stage from Santiago to Negreira has about 23km and a craggy climb. It was
towards the end of this stage that I met Tim, an American of Chinese descent,
walking from Barcelona. We passed together through Puente Maceira, a beautiful
village!
A little
later we caught Tiago, a Brazilian guy, also walking for some weeks, even
though he had a bad knee.
Finally
we got beds in the municipal hostel, which is outside the center of Negreira.
Those
who know me know that I like to celebrate. During these days I was no
different and, whenever I arrived at my destination, I tried to celebrate,
often with a beer 😊
Here,
the one I met was Jacob, a boy from Wales, who generously gave me one of his
beers, since we were a little out of the way. He was one of the most
interesting people I've met over the last few days, for the freedom that seems
to allow himself to live, no matter how others find him as if from the movie
"Trainspotting", bold in his ideas and with great sensitivity. It was
this 23 year old boy who kept me company in the next 24 km until Santa Mariña
de Maroñas.
The
break in Santa Mariña de Maroñas was very rewarding because I met Eduardo, a
very friendly Azorean, who made his 8th Camino. I also met those who would
accompany me to the end of this adventure, Jorge (a quiet, reserved Czech with
an ability to live life much more intensely than he appears) and Dai (a
Japanese who speaks Spanish, well disposed and elected by me as the coolest
person in the Camino 😃).
The next
day we were expecting "The Stage!". Truly exciting!
I left
with Jacob in the direction of Hospital, where the road splits. My companion
from Wales was determined to go to Muxía and I to Finisterra.
We
started to walk and the air was particularly cold. About half an hour later we
realized by the color of the sky that the weather forecast would be fulfilled.
Jacob was genuinely excited about the idea of catching a lot of rain, saying it
reminded him of "home." Already I wasn’t so eager to live the whole winter
(that I didn’t have this year) in one day. Not quite what I was looking for…
The cold
wind gained intensity, and after a few moments it began to rain heavily.
And so
it was our day to the Hospital, with rain, hail, open weather time to time,
breathtaking landscapes and our conversations. It was with a big hug that I
said goodbye to him, pleased to see him start off with his Norwegian friend
that we met on that stop.
I stayed
at the cafe / hostel undecided whether to continue or not.
There were
about 16 km more to reach Cee, more or less the same as I had done up to that
point. I was tired and I knew that it would continue to rain with
interruptions. That was also the last place I could stay before Cee, there was
no middle ground.
That's
when Jorge and Dai arrived, also on the way to Finisterra. Jorge was determined
to see the sea and I will always be grateful to him for having refused to stay.
I
followed them. We actually picked up some more rain and cold, but then the sun
began to rip the sky. I can not express the joy of feeling the heat in my face
and later when I saw the sea ... I felt so alive!
That
night we stayed at the "Casa da Fonte" Hostel and we had a very pleasant evening.
The next
day Jorge, Dai and I made the remaining 15 km to Finisterra. We were in no
hurry to get to the 0 km. We had decided to see the sunset there and I was somehow
nostalgic with the end.
But
David, a dear super fun Madrilenian, sent me a message saying he was 10km from
Finisterra and that he was coming. And I was inexplicably happy !!
In life
you have to celebrate!
We
fulfilled a desire of Jorge and we took a bath in the cold sea. A little later
I went to the lighthouse, where I arrived as I started, alone. But for a little
while, since David and his brother Pablo arrived and then my companions of the
journey. They accompanied me in a few beers at sundown (reviewed by Dan Ferrari).
Adorei tudo o que li! Fantástico Maria! Beijinhos
ResponderEliminarObrigada Filipa :) Grande beijinho
EliminarThe camino! What an experiece of a lifetime and one I want to repeat again and again and again. It was lovely to meet you Maria and I enjoyed reading this hugely. Hugs, Nandita
ResponderEliminarDear Nandita, you are such a sweet person :) Definitly I will repeat it and probably this year.
EliminarIt was a pleasure to meet you too and I really hope to be with you again. A big hug, Maria