Camino de Santiago - Portuguese Coast Path - May 2018
Decidi fazer o meu segundo Caminho de Santiago.
O ano passado fiz o Caminho Central Português e a experiência revelou-se tão extraordinária e energizante que, no mesmo dia que o terminei, sabia que teria que repetir a experiência.
2018 tem sido, para mim, um ano de enorme intensidade e profundas transformações e Maio pareceu-me uma excelente altura para fazer o Caminho da Costa Português.
A maioria das pessoas fá-lo a partir do Porto. Eu tinha pouco mais que uma semana de forma que decidi iniciar a minha caminhada em Caminha.
Esplanada na Praça Conselheiro Silva Torres, com a Eli e o Marco
Apanhei o autocarro na Estação do Oriente e, praticamente 6 horas depois, cheguei à lindíssima vila minhota. Deixei a mochila no albergue e fui dar uma volta pela povoação. Sentei-me numa esplanada da bela Praça Conselheiro Silva Torres e pedi uma imperial, enquanto observava e respirava o ambiente soalheiro. Em menos de nada apercebi-me da tranquilidade do meio que me rodeava e que, simultaneamente me invadia. Ainda não tinha começado a caminhada, mas o “Caminho” era evidente que sim.
Passado pouco tempo conheci o Anselmo, um portuense muito divertido e excelente conversador, e a Eli, uma espanhola de Alicante, boa gente e (sem precisar de apresentações) um verdadeiro espírito livre. Juntou-se a nós ainda o Marco, um rapaz bem-disposto que faz as travessias de táxi-barco para Espanha.
Foi uma noite muito agradável e divertida e julgo que a minha chegada não podia ter sido melhor. Ainda hoje me sinto grata pela generosidade do Anselmo que, fez questão de ser o nosso cicerone, e pelo sentimento de partilha vivido.
Dormi mal nessa noite. Era evidente que a excitação do início desta aventura contribuía, em muito, para isso. No dia seguinte de amanhã sentia-se uma boa disposição e simpatia no ar contagiante! A Rosa e a Beatriz, duas espanholas muito vivaças, ofereciam os pastéis de nata que dispunham. Arrumei as coisas e segui com elas e com a Eli até ao porto. Atravessámos o rio Minho, no barco do Marco, e começamos a nossa caminhada.
Eu consegui esquecer-me da minha credencial de peregrino em Caminha, documento que me dá acesso a albergues a baixo custo, e avancei num passo rápido, sozinha, em direção a Guarda, preocupada em arranjar uma solução. Consegui nova credencial através na paróquia desta povoação, a mais meridional da Galiza.
Segui caminho, sempre junto ao mar, com paisagens típicas do nosso litoral. Mar muito azul, limitado por rochas que parecem ir de encontro a arribas ou a vegetação pintalgada de giesta amarela e roxa. De tempos em tempos, também aqui são bem visíveis as marcas do infernal Verão do ano passado, nas árvores queimadas que teimam manter-se hirtas ao longo da paisagem.
A meio do percurso, voltei a encontrar a Eli e fizemos a restante etapa juntas. Atravessámos o município de Oia, muito conhecido pelo seu imponente mosteiro de Santa Maria de Oia e a praia de areia branca. Mas a Eli tinha começado o caminho no Porto e não estava bem de um dos joelhos. Foi com um misto de orgulho e alegria que resolvemos ficar no albergue de Mougás, após uma etapa de cerca de 23 Km.
Nessa tarde fui dar um mergulho no mar gelado da Galiza e gozei o prazer da preguiça do cansaço, ao do calor do sol. Soube-me pela vida!
Por essa altura travei conversa com o Nestor e o Nahuel, dois rapazes a fazer caça submarina. Um pouco mais tarde, voltámos a juntar-nos, desta vez com a Eli, e celebrámos o nosso dia ao sabor de umas jolas. Assistimos a um deslumbrante e tardio pôr-do-sol, num spot conhecido dos nossos amigos, e despedimo-nos até uma próxima vez, que prometia ser no dia seguinte.
Nestor, Nahuel, Eli e eu
O “Caminho” tem muito a ver com as pessoas com quem nos cruzamos e que passam a fazer parte da nossa história, com o viver cada momento de forma consciente e atenta a um aqui e agora. E foi ainda neste movimento, antes de me deitar, que tive a oportunidade de travar conversa com aquele que se veria a revelar a personagem desta minha viagem, o David.
English version
I decided to do my second Camino de Santiago.
Last year I did the Portuguese Central Path and the experience proved so extraordinary and energizing that on the same day that I finished it, I knew I would have to repeat the experience.
For me, 2018 has been a year of tremendous intensity and profound transformations and May seemed to me an excellent time to make the Portuguese Coast Path.
Most people do it from Porto. I had little more than a week so I decided to start my walk from Caminha.
Landscape of Portuguese Coast Path
I took the bus at the Orient’s Station and, almost 6 hours later, I arrived at the beautiful northern village. I left my backpack in the hostel and went for a walk around the village. I sat on an esplanade of the beautiful Conselheiro Silva Torres Square and I asked for a beer, while I was watching and breathing the sunny environment. In less than nothing I became aware of the tranquility of the surroundings rushing through me. My walk had not yet begun, but the "Camino" clearly had.
After a short time I met Anselmo, a very funny guy from Porto and an excelente talker, and Eli, a Spanish from Alicante, a good person and (without needing introductions) a true free spirit. Marco joined us, a well-disposed boy who makes the taxi-boat trips from there to Spain.
It was a very enjoyable and fun night and I think my arrival could not have been better. Even today I feel grateful for the generosity of Anselmo, who made a point of being our cicerone, and the feeling of sharing.
I didn’t sleep well that night. It was evident that the excitement of the beginning of this adventure contributed much to this. The next day there everyone was on a good mood and the air filled with sympathy. Rosa and Beatriz, two very lively Spaniards, offered the “pastéis de nata” they had. I packed up my things and went with them and Eli to the port. We crossed the Minho River, on Marco's boat, and began our walk.
Hikers: Beatriz, Zuzana, Rosa, Eli e eu
Somehow I managed to forget my peregrine credential in Caminha, a document that gives me access to low-cost shelters, and I walked faster, alone, toward Guarda, concerned to find a solution. I obtained a new credential through the parish of this village, the most southern of Galicia.
I followed the path, always by the sea, with landscapes typical of our Portuguese coast. A deep blue ocean, limited by rocks that seem to go against cliffs or the vegetation with the yellow and purple bushes. From time to time, the marks of the infernal summer of last year are visible here, in the burnt trees that insist to remain stiff throughout the landscape.
Halfway through, I went back to find Eli and we did the rest of the journey together. We crossed the municipality of Oia, well known for its imposing monastery of Santa Maria de Oia and the white sand beach. But Eli had started her walk in Porto and had a hurt knee. It was with a mix of pride and joy that we decided to stay in the hostel of Mougás, after a stage of about 23 Km.
Monastery of Santa Maria de Oia
That afternoon I went for a swim in the icy sea of Galicia and enjoyed the laziness of tiredness and the heat of the sun. Wonderful!
At that point I had a nice talk with Nestor and Nahuel, two young men doing spear fishing. A little later, we got together again, this time with Eli, and we celebrated our day with some beers. We watched a dazzling late sunset at a spot known by our friends, and we said goodbye until next time, which promised to be the next day.
The "Camino" has a lot to do with the people we meet and who come to be part of our story, living each moment, consciously and attentively, here and now. And it was still in this mindset, before I went to bed, that I had the opportunity to engage in conversation with the person who would reveal the main character of my journey, David (reviewed by Maria João Venâncio).
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